UM
CAMINHO PARA ALFABETIZAR COM QUALIDADE
O
livro o método sociolinguístico foi criado a partir da realidade da sala de
aula, para oferecer subsídios para o professor desenvolver,
passo a passo, uma alfabetização conscientizadora, despertada pelo senso
crítico e pela reflexão. Entende- se
Método como sistematização e organização do trabalho docente. É
"Sócio", porque desenvolve efetivamente o diálogo no contexto social
de sala de aula, e é "Linguístico" por trabalhar o que é específico
da língua: a codificação e decodificação de letras, sílabas, palavras, texto,
contexto, e desenvolver as habilidades para ler e escrever.
Medonça e Medonça, os autores de
“Alfabetização Método Sociolinguistico: Consciência social, silábica e
alfabética em Paulo Freire” reinventaram o Método Paulo Freire, associando
atividades dos níveis pré-silábico, silábico e alfabético, decorrentes da
Psicogênese da língua escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, com o método
Freireano, apontando um caminho seguro para uma alfabetização de qualidade para
crianças, jovens e adultos. Este método trabalha com o diálogo
em sala de aula, onde as crianças vão aprender dialogando, dentro de um
contexto que parte da realidade dos educandos, do mundo dos alunos. O objetivo desse livro é mostrar como ensinar
crianças, jovens e adultos a ler e escrever com eficiência, transformando-os em
sujeitos críticos, formando o cidadão para que ele use a leitura e a escrita
como instrumento social para construir uma sociedade mais justa.
No primeiro capítulo os autores trazem um breve
histórico dos métodos de alfabetização que foram criados e utilizados ao longo
da história, relatando a evolução, analisando cada um dos métodos. Eles trazem
a história da alfabetização dividida em três períodos: a Antiguidade e a Idade
Média, quando predominou o método da soletração; o segundo período inicia com a
oposição ao método da soletração, se caracterizou pela criação de novos métodos
sintéticos e analíticos; e o terceiro período que foi marcado pelo
questionamento e refutação da necessidade de se associar os símbolos da escrita
com os sons da fala, iniciado com a divulgação da teoria da Psicogênese da
Língua Escrita. A cada novo método
criado os pensadores e pesquisadores questionavam a eficácia e as dificuldades
dos mesmos e a partir desses questionamentos eram criados novos métodos, dentre
eles o método fônico, este tinha como objetivo, mostrar palavras, acentuando o
som que se queria representar, porém, o exagero na pronúncia de consoantes
isoladas o levou ao fracasso. Para
superar as dificuldades do método fônico, foi criado o método silábico, uma
estratégia que visava unir consoante e vogal, ao contrário do fônico, a sílaba
é apresentada pronta, sem explicitar a articulação das consoantes com as
vogais. Logo depois, com a finalidade de partir de algo mais próximo da
realidade da criança surge o método global, pois a letra e a silaba isoladas de
um contexto dificultam a percepção, pois são elementos abstratos para o
aprendiz. Acreditava-se que considerando a realidade da criança, o processo de
alfabetização de tornaria significativo. Depois da criação do método da
palavração, foram criados os métodos da sentenciação e aqueles que partiam de
contos e da experiência infantil. Os métodos foram divididos em dois grupos os
analíticos e os sintéticos. Os métodos de soletração, fônico e o silábico são
de origem analíticos e os métodos da palavração, sentenciação ou os textuais
são de origem sintéticos.
Um método que é utilizado até os dias atuais é a
cartilha, ela surge da necessidade de material para ensinar as crianças a
escrever, muitos acreditam que esse é um método eficaz na alfabetização, porém,
ele apresenta falhas, que continuam sendo reproduzidas em sala de aula, as
cartilhas apresentam atividades de forma mecânica e descontextualizada, que
visam somente a memorização, trazem textos artificiais. Com a evolução do
conhecimento percebeu-se que o uso das cartilhas se tornou insuficiente para
atender as exigências da sociedade, não basta que o aluno apenas codifique e
descodifique sinais, há a necessidade de se comunicar plenamente, através da
escrita. Assim, após o estudo da alfabetização através do uso das cartilhas,
percebeu-se que esse processo se dá de forma inadequada e artificial, o uso das
cartilhas não dá espaço para a fala da criança. Sob o ponto de vista da
escrita, ela se resume apenas a cópias e não há espaço para produções
espontâneas que incentivem o gosto pela escrita, o aluno não tem liberdade de
expressar o que pensa e no que diz respeito a leitura, ela se reduz a inibir o
gosto pela leitura.
No
segundo capitulo, os autores apresentam as contribuições dos aspectos
linguísticos para a alfabetização da psicogênese da língua escrita de Emília
Ferrero e Ana Teberosky e relatam as consequências que os equívocos da teoria
construtivista causam. As autoras afirmam que as crianças constroem seu próprio
conhecimento, e que o processo de aprendizagem passa por etapas com avanços e
recuos, até dominar o código linguístico, descrevem que o aprendiz formula
hipóteses a respeito desse código, percorrendo um caminho que pode ser
representados nos níveis: pré- silábico: não consegue relacionar as letras com
os sons da língua falada; silábico: interpreta de sua maneira, atribuindo valor
a cada sílaba; silábico-alfabético: mistura a lógica da fase anterior com a
identificação de cada sílaba e alfabético: domina o valor das letras e sílabas.
Segundo
Ferrero e Teberosky a escrita é uma reconstrução real e inteligente, construído
pela humanidade e pela criança que se alfabetiza. Ainda segundo as autoras, as
crianças são ativas e constroem seu próprio conhecimento, o processo de
aprendizagem passa por etapas com avanços e recuos e a aprendizagem da escrita inicia-se muito antes do que a escola
imagina, transcorrendo por vários e diferentes caminhos.
Um dos equívocos que os autores trazem é a exclusão
da experiência silábica do professor, pensando que de tal forma estará
combatendo as atividades mecanicistas no âmbito da sala de aula, tal atitude
traz danos a alfabetização, pois a partir da divisão da palavra e da composição
de novas palavras através das silabas leva o aluno a perceber que a palavra
escrita é a representação da palavra falada.
Os autores apontam as principais consequências dos equívocos que
decorrem da má interpretação da Psicogênese da Língua Escrita. A primeira delas
é a confusão a partir de Alfabetização ou Letramento, os dois são processos
diferentes, e é muito importante defini-los, porque a partir desse conhecimento
o professor terá condições de decidir qual será sua metodologia de ensino.
Nesse sentido, alfabetizar significa ensinar uma técnica, a técnica do ler e do
escrever; letramento refere-se aos usos da leitura e da escrita por alguém que
já domina o código. Sendo assim, alfabetização e letramento constituem dois
processos distintos, porém indissociáveis, é essencial alfabetizar
letrando. Outra consequência é acreditar
que para trabalhar com a realidade dos educandos o importante seria trabalhar
com rótulos, embalagens, panfletos publicitários, mas o que predominou na
alfabetização foi o uso da literatura infantil, com o pretexto de
contextualizar o trabalho, porem, nem todas as crianças tem acesso as historias
da literatura infantil, ou seja, esses textos não fazem parte da realidade
daqueles que não tiveram acesso a esses tipos de textos. Acreditar que os
alunos aprendem só de olhar o professor escrever no quadro é outra
consequência, a historia que o professor
contasse deveria ser recontada no quadro, pois dessa forma o aluno aprenderia a
escrever. Mais uma das consequências é a ideia de que a criança aprende
sozinha, o professor não precisa ensinar e que não precisava desenvolver um
trabalho sistemático, e é preciso que o
professor trabalhe sistematicamente para que o aluno aprenda a escrever, no
entanto, dificilmente se encontram professores que conseguem desenvolver um
trabalho sistematizado. É muito comum vermos o professor pedir que o aluno
escreva do seu jeito e isso é outra consequência gerada a partir da má
interpretação da Psicogênese da Língua Escrita, isso garante que o aluno
escreva sem medo, mas o principal problema aí é a distancia que há entre o
trabalho do nível pré- silábico para o nível alfabético. Outro discurso comum
de ser encontrado é o de que o professor não deve corrigir o aluno, não é o
corrigir que não pode, mas sim a maneira como é corrigido, a correção é
necessária e deve ser feita na presença do aluno e quando ele estiver atento. O
salto entre atividades de nível pré-silabico para as de nível alfabético é mais
uma das consequências, nas atividades de nível pré-silabico desenvolver
basicamente o reconhecimento das letras de seu nome; já nas estratégias de
nível alfabético, trabalha-se as palavras inteiras e o aluno é incentivado até
a produzir textos, dentro desse contexto, muitos professores se desesperavam
pois em nenhum dos níveis eram trabalhados a composição das silabas, isto fazia
com que os alunos reconhecessem as letras, porém não sabiam o que fazer com
elas para formar novas palavras, assim, podemos afirmar que o não ensino da
sílaba traz sequelas á escrita dos alunos. Mas faz se necessário esclarecer que
não é a silabação feita pelas cartilhas. E por fim, temos o preconceito contra
a sílaba, que por ignorância dos princípios linguísticos pertinentes da
alfabetização, a escola tem deixado de trabalhar esse aspecto, a sílaba, que é
específico da alfabetização. Como base nos equívocos e na consequência destes,
notamos a urgência de adotar uma metodologia adequada para alfabetizar as
crianças em nosso país.
Segundo Magda Soares, todos tem uma bela teoria
construtivista da alfabetização, mas não tem método. E é preciso ter as duas
coisas: um método fundamentado numa teoria e uma teoria que produz um
método. Nesse sentido, a teoria
construtivista e o Método Paulo freire se mostraram coerentes e eficazes,
refutando a falsa ideia de que essa teoria é incompatível com esta metodologia.
No capítulo três, os autores abordam o método de
Paulo freire explicando-o e como se diferencia do método fônico. Antes de se
apresentar os passos, faz-se necessário conceituar “palavra geradora”, palavra
que é extraída do vocabulário dos aprendizes, da realidade deles, e através da
decomposição das sílabas e pela sua combinação, são geradas outras palavras.
Quando falamos em alfabetização, ao ouvir a palavra método nota-se uma certa
rejeição, devido ao domínio dos métodos ao longo da história, os quais
limitavam as crianças e as submetiam a processos incoerentes, desvinculados da
realidade. No entanto, não devemos ver o Método Paulo Freire da mesma maneira,
pois, embora tenha passos a serem desenvolvidos, ele não impede que o aprendiz
reflita livremente sobre o conhecimento, ao contrário, ele faz com que o aluno
reflita e desenvolva a criticidade a partir de sua realidade.
Através do
método Paulo freire de Alfabetização busca-se garantir que nos primeiros passos
“codificação” e a “descodificação” transforme a consciência de seu
alfabetizando de forma critica por meio da leitura de mundo; a codificação
permite que o professor conheça através do diálogo os conhecimentos que o aluno
já possui, em outras palavras é a representação da realidade expressa a partir
da palavra geradora, é quando é dado ao aprendiz o direito à vez e à voz; a descodificação
é quando o professor questionará, trazendo novos conhecimentos com base nos
conhecimentos levantados na codificação, fazendo com que o aluno reflita e
cresça criticamente, ou seja, é a releitura da realidade expressa para superar
a ingenuidade de ver e compreender o mundo. É importante salientar que se em um
processo de alfabetização exclui os passos da codificação e da descodificação o
ensino se tornará mecânico. O terceiro passo do Método Paulo Freire é a análise
e síntese da palavra geradora, tem como objetivo levar o aluno a descoberta de
que a palavra escrita representa a palavra falada, através da divisão silábica
da palavra, apresentando suas famílias silábicas, seguida da junção das mesmas
para formar outras palavras, para que assim o educando possa entender o
processo de composição e significados das palavras, por meio da leitura e da
escrita. O ultimo passo deste método é a
fixação da leitura e da escrita, é quando é feita a revisão da analise das silabas
da palavra e apresentação de suas famílias silábicas, para o aluno formar novas
palavras com significado e para compor frases e textos, com leitura e escrita
significativas. Nestes passos vemos o avanço desse método se compararmos com o
fônico, visto que a analise e síntese vem de uma palavra real. Enquanto Freire
desenvolve uma consciência da silaba, o fônico busca a percepção do fonema
através de atividade contraditório ao próprio conceito de fonema, pronunciando
consoantes isoladas, acrescentando silabas artificiais.
Na escolha das palavras geradoras, é preciso
investigar a fala da comunidade a fim de levantar o universo vocabular, tendo
em vista que estas palavras serão extraídas desse universo, o que asseguram as
primeiras palavras geradoras são atividades orais. É fato que a linguagem dos
membros de uma determinada comunidade é condicionada pelo seu nível
socioeconômico e cultural. Nesse sentido, o alfabetizador não discriminará o
aprendiz, respeitar a variedade, partindo da fala do próprio aluno,
transcrevendo-a, para ajuda-lo a dominar o dialeto padrão, trabalhando assim,
as diferenças. Só a partir daí é que os alunos serão submetidos aos passos
deste método.
No último capítulo, os autores trazem modelos de
estudo de palavras geradoras com exemplos e amostras de atividades freirianas
de alfabetização para crianças, jovens e adultos com todos os passos do Método
Paulo Freire.
Em suma, para reverter esse quadro de
fracasso, faz se necessário métodos e estratégias eficientes de alfabetização,
mas para isso, é preciso ter conhecimento tanto da teoria como da prática, pois
quem conhece apenas uma ou outra, conhecerá apenas a metade e ninguém ensina o
que não sabe. Outro fator importante é a formação científica que o
alfabetizador não vem recebendo, que não o possibilita atuar criticamente.
Sendo assim, há necessidade da tomada de medidas urgentes e eficazes de
metodologias que realmente alfabetizem com competência. Sendo
assim, o método sociolinguístico constitui uma alternativa para estancar o
fracasso da alfabetização no Brasil, isso porque como vimos ele tem
fundamentação sociolinguística comprovada, que alfabetiza através da
codificação e descodificação que desenvolve a consciência social; através do exercitação
da consciência silábica e alfabética, para formar cidadãos críticos e participantes
comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa. Acredito todo
estudante com formação em Pedagogia deveriam ler ou ter esse livro, pois traz
conhecimentos que podem transformar a educação no nosso país.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
MENDONÇA,
Onaide Schwartz. Alfabetização: o método sociolinguístico: consciência
social, silábica e alfabética em Paulo Freire./Onaide Schwartz
Mendonça, Olympio Correa Mendonça. – 3 ed. – São Paulo: Cortez, 2009.
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